Por que, numa vasta coleção como a minha, escolhi justo
falar de um disco para o público infantil – e que não possui nenhuma relação
com o pop ou o rock? Simples: Porque este disco traz o que de melhor temos na
sonoridade de nossa MPB – gênero que predominou na TV e nas rádios dos anos 70
aqui no Brasil. E você simplesmente não vai encontrar nada de mais sublime numa
trilha infanto-juvenil como o material desta obra.
Trazendo um naipe de compositores e intérpretes de primeira
grandeza – além do brilhante trabalho de arranjos de Dory Caymmi – esta série baseada
na obra do eterno Monteiro Lobato - se tornou atemporal e inesquecível para
quem pôde acompanhar pelo menos sua fase de ouro (1977-1980).
Vamos então faixa por faixa:
A1) Narizinho: Composição da consagrada dupla Ivan Lins / Vitor Martins, traz um riff lindo de piano e é uma das mais marcantes do disco descrevendo a personagem de forma lúdica (assim como temos também em “Emília”). Lucinha Lins – que à época já atuava como backing-vocal na banda de Ivan - vem em doce e marcante interpretação e entrega sua voz afinada de forma pungente. Letra massa de Vitor Martins, cujo refrão fica grudado no ouvido! Maravilhosa.
A2) Ploquet Pluft Nhoque (Jaboticaba): Um rico arranjo vocal com percussão, violão e trabalho esmerado de sopro. Primeira participação do grupo PAPO DE ANJO no disco e outra de Dory Caymmi com Paulo César Pinheiro.
A3) Peixe: A mais “estranha” do álbum. Os Doces Bárbaros – um grupo reunindo as 4 maiores figuras da música baiana - em 1976 aparecem aqui numa gravação ao vivo com entonações e inflexões vocais que lembra as loucuras do Tropicalismo (!?).
A4) Saci: Bastante tocada durante os episódios. Aqui, a banda PAPO DE ANJO vem em arranjo vocal sem letra, apenas melodia. A percussão tem papel importante numa harmonia que remete a temas rurais. O violão pontua toda a melodia e carrega, em sua essência, um riff danado de bom. Arranjo de Dory.
A5) Visconde De Sabugosa: João Bosco / Aldir Blanc em grande forma. João já estava consolidado por esta época e sua parceria com Aldir se tornou célebre na MPB. Aqui a levada do violão e pandeiro são exuberantes. Destaque para a interpretação veloz de João e para outra letra que gruda na mente.
A6) Dona Benta: Outra composição da dupla Ivan Lins / Vitor Martins, com linda harmonia – remete à própria figura da personagem, num misto de tranquilidade e acolhimento. O intérprete José Luis não teve papel muito relevante em nossa música, mas executa com maestria os vocais. Bem relaxante e prova da capacidade imensa de letrista que sempre foi Vitor Martins.
A7) Sítio Do Picapau Amarelo: Inesquecível canção-tema de um Gilberto Gil inspirado, este tema ficou gravado na mente de crianças e adultos por toda
a segunda metade da década de 70! Com melodia assobiável e levada leve, o
arranjo vem exuberante e envolvente do início ao fim.
B1) Pedrinho: Fabulosa composição de Dory Caymmi e Paulo César Pinheiro. Com linda interpretação e execução da banda AQUARIUS – ver link ao final da resenha - que atua até hoje.
B2) Arraial Dos Tucanos: Ronaldo Malta interpreta com paixão uma balada típica dos trovadores –me recordou “Ponteio” de Edu Lobo - com orquestração e arranjo que crescem junto à percussão, utilizando outros instrumentos do folclore nordestino como bumbo e sanfona . Composição de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando.
B3) Tia Nastácia: Aqui temos mais um membro dos Caymmi, desta vez o mestre Dorival numa entrega vocal com sua verve e levada de violão típico do cancioneiro nordestino - e de seu próprio estilo.
B4) Passaredo: Outro grande sucesso atemporal do disco e um
dos grandes sucessos de sempre do MPB4, esta tem letra instigante e
inteligente, ritmada e cheia de nuances. “Bico
calado, toma cuidado, que o homem vem aí...” é
uma frase que ficou registrada como marca nesta composição brilhante de Chico Buarque /
Francis Hime. A orquestração pontuando o piano é sublime.
B5) Emília: Sérgio Ricardo, que ficou conhecido por uma das maiores vaias em festivais (no III Festival da Canção, em 1967) assim como Lucinha Lins (no Mpb Shell de 1981) – dá vida à eterna boneca numa interpretação ora vigorosa ora preguiçosa. A levada de violão varia - assim como o autor faz com seu canto - descrevendo a personagem de forma toda peculiar . A lias, a letra cai como uma luva nesta composição do próprio artista.
B6) Tio Barnabé: Retornamos aqui à elementos e arranjos afro para homenagear mais uma figura emblemática do Sítio, com excelente trabalho de violão - que começa dedilhado e depois explode em ritmo batida, percussão, além do acompanhamento de palmas. Sons de pássaros emolduram a curta canção. Composição de JardsMacalé e Marlui Miranda. Interpretação dos autores.
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novamente...
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADtio_do_Picapau_Amarelo_(1977)
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADtio_do_Picapau_Amarelo_(%C3%A1lbum_de_1977)