Escrever sobre Guilherme Arantes é uma dívida para mim. Artista hoje reconhecido pela sua obra a qual dispensa comentários na história da moderna MPB, é o artista a que mais shows pude assistir...
Voltando no tempo, como não se maravilhar com sua figura – adolescente que eu era – com as madeixas irrequietas, as caretas, o corpo saltando do piano como um ensandecido. Alguns artistas chamavam a atenção muito pelo visual ou gestual, como ele, Belchior ou – óbvio – Ney Matogrosso...e era muito bom aguardar Guilherme mostrar o sucesso do momento no Globo de Ouro da TV Globo!
Guilherme Arantes teve esta primeira fase de sua carreira marcada por canções de revolta teenage urbana– nada a se estranhar para um jovem vivendo os loucos anos 70, saído de uma banda progressiva numa cidade como Sampa e seguindo uma carreira contrária ao desejo de seus pais. O ápice desta primeira fase irada e brilhante (que considero entre 1976 a 1980) foi o álbum “Coração Paulista”, de 1980.
Este disco de 1979 pela Warner - e com produção do ex-mutante Liminha - tocou pouco nas rádios. Houve dois compactos distintos lançados como “singles”. Um contendo Estrelas / Biônica (sem foto de capa) e outra com estas duas mais Êxtase e Só o prazer (com a reprodução da foto do LP mesmo). Também teve a posterior reedição mais do que merecida em cd com a inclusão da faixa “Estatísticas” que esteve presente num festival de 1979.
Este disco de 1979 pela Warner - e com produção do ex-mutante Liminha - tocou pouco nas rádios. Houve dois compactos distintos lançados como “singles”. Um contendo Estrelas / Biônica (sem foto de capa) e outra com estas duas mais Êxtase e Só o prazer (com a reprodução da foto do LP mesmo). Também teve a posterior reedição mais do que merecida em cd com a inclusão da faixa “Estatísticas” que esteve presente num festival de 1979.
O álbum abre com a marchinha Loucos e Caretas, num dueto com Emilinha Borba, que, apesar de ser de geração distinta, funciona e muito. Pra cima, com os dois dialogando de forma irreverente, é um bom cartão de visitas trazendo um teclado super alegre. Logo em seguida vem Só o prazer, que penso não ter ficado mais na memória do público por falta de trabalho nas rádios por parte da gravadora ou mesmo pelo refrão lá-lá-lá que pode não ter agradado a alguns. Mas é uma canção pop bem construída e esteve presente em algumas coletâneas de sucessos do compositor. Seguindo temos dois petardos – as baladas Entre eu e você e Hei de aprender. E, creia-me, estão entre as baladas mais lindas de sua carreira com letras maduras com relação à pessoa amada (a primeira) e uma reflexão profunda sobre o ser humano (a segunda, onde solta a voz). Já valem o disco! Fechando o lado A, A cor do cacau traz, como o próprio título já dá a pista, uma harmonia de verão bem praiana, cujo teclado me lembra até um toque de Hawaii.
O lado B abre com o petardo Êxtase, que até hoje toca nas FMs e é tema de casais apaixonados pelo Brasil afora. A lira de um caboclo é um aparte no disco, apenas cordas e voz, num clima “provençal” onde o autor fala de sua relação com a música. Bom dia retrata em música o que seriam cenas do cotidiano de um sujeito numa grande metrópole...curiosa, prá cima e agitada. A bandinha vem logo em seguida, (será que faz parte das memórias de Guilherme?) com um côro infantil irresistível e que já prenunciava trabalhos dele para o público mirim de grande sucesso como foram “Xixi nas estrelas” e “Lindo balão Azul”. Gostosa de ouvir! Estrelas, a seguinte, traz uma letra apaixonada e um teclado com certa melancolia e me pergunto por que Arantes não explorou mais seu lado baladeiro tão bem quanto neste disco em trabalhos posteriores. Sua performance vocal é marcante nesta faixa. Biônica fecha o álbum num clima de festa, agradável música pop para as rádios, mas que não chegou a figurar entre suas canções mais conhecidas.
Depois do sucesso impactante no MPB Shell de 80 com “Planeta Água”, o single “Deixa chover” (de 1981 e minha música pop preferida de seu repertório) e dois bons álbuns em 82 e 83 , a carreira de Arantes entrou numa divisão inusitada. Ele começou a tocar feito água nas rádios com o álbum “Despertar” (do hit “Cheia de charme” de 1985), manteve o hábito de figurar suas canções entre os temas de novelas ao longo dos anos 80... mas sua música ficou – em minha opinião – mais fria. Digo fria em relação ao uso de sintetizadores e outros bichos em seu som. Ele trocou as letras mais sociais por temas românticos, muitas vezes até sendo tachado de brega por muitos, o que fez com que houvesse uma retração de seu antigo público – como eu. Seu som ficou mais cheio, sem perder a qualidade, porém... Que saudade do pianista solitário a entoar suas angústias! Mas a vida muda, os músicos absorvem as tecnologias, o mercado vai em outra direção e – vale a pena lembrar – todos os medalhões da MPB tiveram uma queda em vendagens e sucesso a partir dos anos que marcaram o rock Brasil como uma nova força em nossa mídia musical.
Guilherme Arantes certamente lançou álbuns de destaque em todas as décadas (o belo “New Classical Piano Solos” de 2000, “Pão” de 1990), etc. que podem não ter a força de seus primeiros trabalhos ou do consagrado “Despertar”, porém, recentemente descoberto por alguns artistas da nova geração, sua herança musical se perpetua. Eu agradeço a Guilherme a quem uma vez gritei “mestre!” em um show no extinto Canecão e fui respondido com uma breve explanação do porquê Arantes gostava tanto de casas intimistas...Então, valeu mestre!
Crédito das fotos: 1- acervo próprio, 2- Internet, 3- GA fã clube: facebook.com/guilhermearantesfc.
Depois do sucesso impactante no MPB Shell de 80 com “Planeta Água”, o single “Deixa chover” (de 1981 e minha música pop preferida de seu repertório) e dois bons álbuns em 82 e 83 , a carreira de Arantes entrou numa divisão inusitada. Ele começou a tocar feito água nas rádios com o álbum “Despertar” (do hit “Cheia de charme” de 1985), manteve o hábito de figurar suas canções entre os temas de novelas ao longo dos anos 80... mas sua música ficou – em minha opinião – mais fria. Digo fria em relação ao uso de sintetizadores e outros bichos em seu som. Ele trocou as letras mais sociais por temas românticos, muitas vezes até sendo tachado de brega por muitos, o que fez com que houvesse uma retração de seu antigo público – como eu. Seu som ficou mais cheio, sem perder a qualidade, porém... Que saudade do pianista solitário a entoar suas angústias! Mas a vida muda, os músicos absorvem as tecnologias, o mercado vai em outra direção e – vale a pena lembrar – todos os medalhões da MPB tiveram uma queda em vendagens e sucesso a partir dos anos que marcaram o rock Brasil como uma nova força em nossa mídia musical.
Guilherme Arantes certamente lançou álbuns de destaque em todas as décadas (o belo “New Classical Piano Solos” de 2000, “Pão” de 1990), etc. que podem não ter a força de seus primeiros trabalhos ou do consagrado “Despertar”, porém, recentemente descoberto por alguns artistas da nova geração, sua herança musical se perpetua. Eu agradeço a Guilherme a quem uma vez gritei “mestre!” em um show no extinto Canecão e fui respondido com uma breve explanação do porquê Arantes gostava tanto de casas intimistas...Então, valeu mestre!
Crédito das fotos: 1- acervo próprio, 2- Internet, 3- GA fã clube: facebook.com/guilhermearantesfc.