terça-feira, 27 de outubro de 2020

A música pop perfeita parte 4: Lloyd Cole & the Commotions - Rattlesnakes (1983).

Uma das estréias pop (eu disse pop , e não rock) mais perfeitas da história está neste disco. Os escoceses liderados pelo barítono, galã e estudante de filosofia Lloyd Cole colocaram 10 músicas perfeitas num único disco.

A capa inglesa (esquerda) é muito mais chique – de autoria do fotógrafo Robert Farber – e me recorda os chalés da série Twin Peaks. A capa brasileira é a mesma que a americana, com a banda tocando num ambiente escuro. Atingiu o 13 lugar na parada britânica. Mas marcou muito mais que muito “top ten” por aí...

Bebendo na fonte de Dylan, Cole – autor de grande parte das canções sozinho – reuniu nos Commotions um time de caras que realmente se entregaram aos arranjos antes que aos egos, sublinhando estes com uma leveza e uma sensibilidade magistrais. Destaque para o guitarrista Neil Clark. Para falar do trabalho, há que se dar ênfase nas letras – afinal Cole chegava como um exímio letrista contemporâneo e seu escrito tem o perfil de crônicas modernas à dois. Como não tenho no encarte (nem na versão brasileira e nem na inglesa) as mesmas, prefiro comentar mais o trabalho dando uma idéia geral de cada faixa. Mas praticamente todas estão centradas no amor e seus desdobramentos segundo o próprio autor.

  1. Perfect skin: Arranca a todo com a banda entrando na cola do riff de guitarra e Cole desfiando sua admiração pela figura feminina de pele perfeita. Rápida, deliciosa e febril como uma paixão de verão. Primeiro single do trabalho.
  2. SpeedBoat: É baseada num livro e possui sua base climática nos teclados, dando a languidez de um passeio mesmo por um rio. De um arranjo bem trabalhado, dá uma idéia de como a banda consegue tirar o máximo de criatividade com um mínimo de harmonias.
  3. Rattlesnakes: A entrada pomposa com cordas e violão pontua esta canção rápida que dá nome à obra e mostra a capacidade trovadora Dylanesca interpretativa de Cole, com suas tiradas tipo "(...) tudo o que ela precisa é terapia" ou ainda "(...) o amor é um desapontamento cinza". O clipe foi filmado no mesmo local onde a banda posou para as fotos do LP, no caso duas distintas.
  4. Down On Mission Street: Também possui guitarra marcante e arranjo de cordas num crescendo ao final. É mais comportada, introspectiva, porém, também bela. Me parece que a banda tirou alguns elementos da música norte-americana para esta composição.
  5. Forest Fire: É, em minha visão, uma das dez maiores canções do pop inglês dos anos 80. Climática, jovem, poderia ser tema de qualquer filme teenage dos 80´s como “Saint Elmo´s fire” ou “Preety in Pink”. De uma grande carga poética, a canção vai num crescendo até o teclado ditar as regras num final magistral. Foi o segundo single do disco.
  6. Charlotte Street: É mais densa, mais triste. O teclado tem vital importância aqui.
  7. 2cv: Arrastada, americana, sem bateria...a menos marcante do álbum. Cole como sempre ácido: "Nós simplesmente estamos perdendo tempo precioso" em mais uma letra de relações mal resolvidas.
  8. Four Flights Up : Também é rápida, lembrando a estrutura de composição típica do R.E.M.
  9. Patience: Traz um momento de delicadeza, pontuando uma relação a dois rompida, com um backing feminino bem sacado, que por vezes chega a conduzir Cole. A banda novamente cresce nos arranjos. O líder se arrisca – e bem – nos falsetes.
  10. Are you ready to be heartbroken: Fecha o disco com chave de ouro e é minha preferida. Simples, mas gruda no ouvido. Aqui o acordeon diz “presente” para dar cores a uma letra que destaca a dor como parte inerente do amor - como nos versos: “Fazendo seus amigos se sentirem culpados(...)” e “ Você está pronto para sangrar? ” Uma pequena obra-prima - como a linda “Down in the Seine” do Style Council – que usa do acordeon para se revestir de Europa.
Prontos para a comoção dos sentidos? Para sangrar a sensibilidade? Na realidade entro num estado de hemorragia profunda com este disco (rs). E que dor prazerosa...

Aqui deixo registrado duas boas resenhas deste mesmo disco que encontrei na Net:

http://www.aescotilha.com.br/musica/vitrola/lloyd-cole-and-the-commotions/
http://www.botequimdeideias.com.br/flogase/disco-pop-perdidos-11-lloyd-cole-the-commotions-rattlesnakes/

Resenha por: Alvaro Az.

Fotos: discos e encarte (coleção particular).

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Dez discos preferidos da MPB por Richard Valenta.

Seguem os dez álbuns preferidos da MPB de meu amigo Richard Valenta, enviadas diretamente da Alemanha.

1 – Secos e Molhados – Debut
2 – Oswaldo Montenegro – Entre uma balada e um blues
3 – Mutantes – Tudo foi feito pelo sol
4 – Pepeu Gomes – Geração do som
5 – Cazuza – Ideologia
6 – 14 Bis – Debut
7 – Zé Ramalho – Debut
8 – Milton e Borges – Clube da Esquina
9 – Beto Guedes – Contos da lua vaga

10 – Flávio Venturini – O Andarilho

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Meus dez discos preferidos da MPB.

Este post não busca ser influenciador nem muito menos ordenar uma lista em preferência.

Aqui vai minha relação dos 10 maiores discos de MPB.
Obviamente, a escolha não é por critérios de produção, importância na
nossa música ou mesmo relevância a nível de definição de estilos, etc.
Vai mesmo do lado sentimental que estes discos ou músicas significam
para mim.

Comentários sempre bem vindos.

  • O último pau-de-arara - Fagner (1973)
  • Alucinação - Belchior (1976)
  • Maravilhas contemporâneas - Luís Melodia (1976)
  • Clube da esquina - Lô Borges & Milton Nascimento (1972)
  • Oswaldo Montenegro (1980)
  • Galos de briga - João Bosco (1976)
  • Amar - Simone (1981)
  • Zé Ramalho (1978)
  • Milagre dos peixes - Milton Nascimento (1973)
  • Matita Perê - Tom Jobim (1973)

Aproveito para indicar a leitura desta resenha de Mauro Ferreira no canal do G1, onde ele fala um pouco sobre o álbum "Matita Perê" de Jobim.


https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2020/05/16/discos-para-descobrir-em-casa-matita-pere-tom-jobim-1973.ghtml

quarta-feira, 27 de maio de 2020

A música pop perfeita parte 3: The Carpenters - Horizon (1975).

Demorei a curtir a música dos Carpenters, muito porque meu irmão mais velho ouvia constantemente e meu barato era o Rock à época, e não o pop. Também demorei a perceber o quão vistoso era o grave de Karen, uma cantora completa, uma estrela, uma das vozes femininas mais marcantes da música moderna do século XX.

Horizon é o sexto álbum de estúdio da banda e para mim, o petardo pop perfeito da dupla.


Se Richard apenas tivesse escrito "Aurora / Eventide" - músicas que abrem e fecham o disco, já poderia levar um prêmio especial. Estas pequenas composições carregam uma aura de divindade / angelitude extremas. Não são deste mundo. Sobrenatural a harmonia e interpretação de Karen, já valeriam o disco.

"Please Mr. Postman" alcançou o topo da parada de singles da US Billboard, se tornando um mega sucesso mundial, assim como "Happy" - ambas composições de terceiros e a estrondosa "Only Yesterday" com uma inflexão grave magnífica (!) de Karen logo no primeiro verso. Esta última alcançou o quarto lugar da Billboard. Todas as três foram responsáveis pelo sucesso do álbum em vários países, incluindo o Brasil.

"Desperado", uma releitura da dupla dos Eagles, poderia bem estar na trilha sonora de obras como "Paris, Texas" de WinWenders ao lado dos instrumentais de Ry Cooder, pois a harmonia com gaita de Tommy Morgan abrindo e fechando a faixa dentro do belo arranjo e o tema da letra remetem a distanciamento e drama. Uma pérola.

Outra que merece destaque no álbum é "Solitaire" - terceiro single do´álbum. Com magnífica performance de Karen - redundância né? - e mais um belíssimo arranjo do duo. 


"I can´t dream, can´t I" e "Love me for what I am" são outras duas releituras mais calmas na interpretação e com arranjo mais modesto, digamos assim. Destaque para o solo brevíssimo de Tony Peluso na guitarra nesta última.

Já "Goodbye and I love you" é uma gostosua com os arranjos vocais típicos da dupla, numa bela composição de Richard com o parceiro John Bettis.

Este álbum, no geral, é bem reflexivo, dentro da característica dramática e melancólica presente na voz de Karen. A revista Rolling Stone, na época, aclamou a obra como a mais sofisticada do duo até então. No Japão e Inglaterra, o petardo chegou ao 1° lugar da parada.


Se vc quiser começar a se aprofundar na música da dupla, comece por este álbum. Boa viagem...
Créditos: foto 1 (discogs.com), foto 2 (pinterest.com), foto 3 (myspace.com/thecarpentersofficial). Review por Alvaro Az.